Como um libanês que fez reféns em um banco para resgatar dinheiro foi considerado herói pelo povo
Governo do Líbano congelou as contas da população devido à crise econômica que atinge o país desde 2019.
Bassam al-Sheikh Hussein recebeu o apoio de diversos manifestantes ao sair do banco em que manteve seis pessoas reféns em Beirute, no Líbano, nesta quinta-feira (11). O homem exigiu que o Banco Federal o deixasse retirar suas economias da conta, congelada pelo governo libanês devido à crise econômica que atinge o país desde 2019.
As autoridades dizem que Hussein, de 42 anos, entrou no banco armado e, com uma lata de gasolina, ameaçou atear fogo a si mesmo a menos que fosse autorizado a sacar seu dinheiro. “[Ele] fez o que tinha que fazer”, disse Mariam Chehadi, esposa do libanês, a repórteres que estavam fora da agência bancária.
Dina Abou Zour, advogada e ativista que representa a família de Hussein, explicou que, inicialmente, o libanês queria retirar todas as suas economias do banco, aproximadamente US$ 210 mil. Mas, após horas de negociações, o homem aceitou uma oferta da instituição, que entregou US$ 35 mil a seu irmão.
Soldados libaneses nas ruas de Beirute — Foto: Hussein Malla/AP
Segundo familiares do libanês, ele precisava de dinheiro para pagar as despesas médicas do pai e outras contas. “Meu irmão não é um canalha. Ele é um homem decente. Ele tira o que tem do próprio bolso para dar aos outros”, disse o irmão de Hussein, Atef, do lado de fora do banco, durante o impasse.
Hussein foi levado para uma agência da Inteligência da Informação da Direção Geral da Polícia onde, segundo oficiais, o Ministro do Interior o esperava. Rami Ollek, advogado do libanês, contou que a polícia prometeu que Hussein seria liberado.
"De acordo com nossa experiência, não há confiança. Eles vão dar desculpas de que é tarde para mantê-lo. Estamos indo para a delegacia para pressionar pela sua libertação, como prometeram, ou vamos agir", afirmou Ollek.
Aclamação popular
Civis diante de policiais libaneses durante protesto no Líbano — Foto: Hussein Malla/AP
Dezenas de manifestantes se reuniram do lado de fora do banco enquanto a situação se desenrolava. Muitos cantaram slogans contra o governo e os bancos libaneses, esperando que o atirador recebesse seu dinheiro. Alguns espectadores o saudaram como herói.
“Ninguém dirá que ele fez a coisa errada”, disse Ahmad Yatoum, que estava próximo ao Banco Federal, ao "The Guardian". "Pessoas desesperadas fazem coisas desesperadas. Somos todos como ele, até os soldados e a tropa de choque gostaram dele.”
Hussein recebeu apoio de manifestantes que se reuniram em torno da agência bancária, em Beirute — Foto: REUTERS/Mohamed Azakir
Desde 2019, o Líbano sofre a pior crise econômica de sua história moderna. Três quartos da população vive na pobreza e a libra libanesa desvalorizou mais de 90% em relação ao dólar americano.
“O que nos levou a esta situação é o fracasso do Estado em resolver esta crise econômica e as ações dos bancos e do Banco Central, onde as pessoas só podem recuperar parte de seu próprio dinheiro, como se fosse uma mesada semanal”, disse Abou Zour, da União dos Depositantes e uma das manifestantes. “E isso levou as pessoas a resolverem as coisas com as próprias mãos.”
Fonte: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2022/08/12/como-um-libanes-que-fez-refens-em-um-banco-para-resgatar-dinheiro-foi-considerado-heroi-pelo-povo.ghtml