Enquanto, para evitar o pior, deveríamos reduzir as emissões de CO2 em 45%, até 2030, a tendência é que as emissões se elevem em 14% até lá
Enquanto, para evitar o pior, deveríamos reduzir as emissões de CO2 em 45%, até 2030, a tendência é que as emissões se elevem em 14% até lá
As mudanças climáticas são provocadas essencialmente pelos hábitos de consumo dos mais ricos do planeta. Há décadas os cientistas nos alertam sobre as catástrofes que elas trariam. O problema não mais é do futuro, já é realidade, com número crescente de mortes e prejuízos, e os dirigentes do mundo continuam a não fazer o suficiente. Isso, apesar de avisados de que a “janela” de oportunidade para se enfrentar a questão era curta, pois a inação nos levaria a um ponto de inflexão, sem volta.
Num livro lançado esta semana, Bill McGuire, um expert, muda o discurso. Segundo ele, já passamos do ponto de inflexão e consequências gravíssimas são inevitáveis.
Enquanto, para evitar o pior, deveríamos reduzir as emissões de CO2 em 45%, até 2030, a tendência é que as emissões se elevem em 14% até lá. Os dirigentes do mundo, além de se provocarem rumo a mais guerras, aprovam novas explorações de combustíveis fósseis que ultrapassarão em muito o dito “orçamento de carbono”, ou seja, o limite de emissões compatível com a meta de elevação da temperatura acordada em Paris. De acordo com McGuire, uma criança nascida em 2020 viverá num mundo muito mais hostil que o de seus avós. Ou mesmo seus pais, podemos dizer!
A conclusão, sem dúvida, não é jogar a toalha e desistir! Pelo contrário, é intensificar os esforços de redução de emissões e, também, realizar fortes ações de adaptação como, por exemplo, para reduzir as crescentes ondas de calor nas cidades brasileiras. Especialistas precisam ser ouvidos sobre as maneiras mais eficazes de fazê-lo, para evitar termos de conviver com temperaturas ambiente superiores a 450C, 500C neste país tropical.
O problema é global e é, pois, também brasileiro. O Brasil está entre os países que mais emitem; a sua decantada matriz energética “limpa” está cada dia mais suja, em razão da ampliação da geração termoelétrica; estamos embarcando na canoa furada dos automóveis elétricos, promovida pela publicidade do lobby automotivo, sem qualquer política que amplie a disponibilidade de ônibus elétricos, estes sim compatíveis com as transformações necessárias!
Ao mesmo tempo, a população brasileira, como demonstra pesquisa de opinião do Instituto de Tecnologia e Sociedade, está ciente dos riscos decorrentes das mudanças climáticas e, na proporção de 77%, consideram importante proteger o meio ambiente ainda que a custa de empregos e crescimento econômico! Nessa mesma linha, a pesquisa citada informa que 45% já votaram em algum político por suas propostas para o meio ambiente.
Apesar desses números, a questão ambiental só aparece marginalmente em discursos de campanha, quando aparece! O incumbente, aliás, já afirmou não acreditar nas já irrefutáveis evidências.
Nesse quadro, é claro que acreditar em mais crescimento econômico e mais consumo (inconsciente) como caminho para minorar a miséria é uma Fake News letal e deveria merecer punição!
Eduardo Fernandez Silva. Mestre em Economia. Ex-Diretor da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados
Fonte: https://www.metropoles.com/blog-do-noblat/artigos/planeta-terra-sem-volta-por-eduardo-fernandez-silva